segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O dia em que um cara cuspiu em mim

Eu tenho cá meus defeitos. Sou sarcástica, irônica, impaciente, impulsiva. Mas me considero uma pessoa legal, gente boa.

Dito isso, saibam que dia desses um sujeito cuspiu na minha cara enquanto eu estava sentada em um dos bancos do ônibus que me leva pro trampo  Por quê? Me pergunto até hoje.

Bom, o negócio é que esse cara entrou no balaio com o filho pequeno em um dos pontos da Avenida Barão Homem de Melo.

Eu estava perto da janela. Tinha banco com dois lugares disponíveis, mas ele preferiu se sentar ao meu lado. O garoto ficou na ponta de outro assento, mas perto do pai, do outro lado do corredor.

A viagem seguia normalmente quando pai e filho resolveram brincar com os apoios de braço. Fazia muito barulho e o banco tremia todo, o que atrapalhava muito a minha lombar (hérnia de disco).

Aguentei uns bons 20 minutos até que disse:
- Licença, moço. Será que o seu filho trocaria de lugar comigo? Assim vocês ficariam mais à vontade.
- Tô te incomodando? - respondeu.
- Um pouco - disse eu.

Foi aí que o cara pirou. Disse que o filho era dele e que tinha direito de fazer o que quisesse no ônibus. Me chamou de vagabunda (!) e tudo.

"Vai cuidar da sua vida, vagabunda!". Essa frase ainda ecoa na  minha cabeça, quando me distraio. Aparece de repente, intrusa. Na hora fiquei em choque. Quis sumir naquele banco. Não consegui me mexer. Teimava, ali sentada, a encontrar uma resposta à altura. Colava minha testa na janela, morta de vergonha e coberta de humilhação.

Longos cinco minutos depois, o sujeito deu sinal e saiu com o filho. "Graças a Deus", pensei. Mas foi aí que aconteceu: o ônibus parou no semáforo. Da calçada, o tal homem se aproximou da minha janela e disse, "sua desgraçada! Se eu te ver de novo, te meto a mão na cara!". Aí, encheu a boca e cuspiu no meu rosto, no lado esquerdo.

"Isso não tá acontecendo", eu repetia pra mim mesma até chegar o momento de saltar. Acho que ninguém viu. Se viu, não fez nada. Não sei se eu faria se visse algo assim. A gente tem medo. O tempo todo. Ainda mais nós, mulheres.

Evitei pegar ônibus naquele horário temendo esbarrar com o sujeito mais uma vez. Bom, meses se passaram e nem sinal dele. Aliás, não tenho certeza. O tempo foi bom pra me fazer esquecer do rosto do cara.

As pessoas são loucas. Muitas estão afastadas do amor e da educação. Eu odiei esse cara. Odiei mesmo!!! Mas logo me despedi desse sentimento. Ele deu lugar ao medo. Depois veio a indiferença. Agora, pena. Que sujeito infeliz.

Mas dó mesmo fiquei do filho dele. Tão novinho, experimentando a atitude daquele homem, o desamor e o desrespeito, legitimando tudo pela autoridade paterna. De mochila de "Carros" nas costas, uniforme passado e tênis branquinho. Ficou segurando a mão do pai enquanto ele me cuspia. Naquele momento, amei aquele menino.

5 comentários:

  1. Não se rio do ocorrido, ou respeito sua dor... Grande Thaís. você não merece esse vagabundo.

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  2. E o pior que a primeira/principal visão do mundo deste menino será através do pai.

    ps.: estava tentando comentar via cel este post e não estava conseguindo, desculpa se este comentário ficou varias vezes no seu blog.

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